domingo, 8 de junho de 2008

Men (and women) in black


E então que é dia do estudante às quintas-feiras. Numa primeira observação, nada de diferente acontece por isso. A não ser o uso dos curiosos trajes. Curiosos, logicamente, para mim, que não entendia o porquê de - do nada! - algumas pessoas estarem andando de preto pela faculdade.

Os trajes fazem parte da tradição acadêmica, algo bastante respeitado em grande parte das instituições daqui, especialmente as mais antigas. As universidades possuem uma ou outra diferença, mas as semelhanças são evidentes, sobretudo para leigos e recém-chegado.

A origem do traje vem das indumentárias religiosas, compostas por uma capa e uma batina. Convém lembrar que até o século XVIII era a Igreja que detinha o monopólio do ensino através da Companhia de Jesus (aula de história, ensino fundamental). Na verdade, hoje em dia os trajes são mais usados em dias de festas e afins...

Só quem está autorizado a usar um traje acadêmico é o veterano. Isso porque quem acaba de entrar na faculdade ainda é um simples ‘caloiro’, sem direitos, sem respeito, sem nada (e qualquer semelhança é mera coincidência). As regras e as peças - tanto para homem quanto para mulheres - são muitas, mas nem todas seguida.

Em cada traje existe uma quantidade de emblemas (símbolos) com uma hierarquia muito bem definida (o símbolo da cidade vem antes do símbolo da universidade e tal). E não é permitido usar acessórios e elementos que chamem atenção. Pinturas, brincos e pulseiras jamais (adorei!)... A idéia é que todos os ‘trajados’ estejam o mais uniformes possível.

Outro detalhe importante diz respeito à capa. Devem ser dobradas cuidadosamente, seguindo alguns princípios. Quando usada sobre os braços, a dobra deve parecer um rabo de bacalhau. Quando usada nas costas, o número de voltas tem a ver com o número da matrícula, com os anos de faculdade ou coisas do tipo. E o dono não deve se separar dela. Dizem até que em alguns lugares as capas não podem ser lavadas.

Confesso que ainda acho bastante pitoresco um grupo de estudantes vestidos de negro de cima a baixo, com uma capa dobrada no ombro. Principalmente quando está quente e a maioria das pessoas ‘não tradicionais’ e/ou ‘não acadêmicas’ está suando e se abanando. Nessas horas, por vezes minha estranheza dá lugar a quase uma admiração. Uma espécie de “eita, mas que disposição, amigo!”.

(Agradecimentos ao super prestativo estudante Carlos, segundo o qual “não há um pai sequer que não tenha orgulho em ver o seu filho trajado”)

5 comentários:

Renée disse...

Já pensou se essa "moda" chega na UFF? Todo mundo de preto e capa na Cantareira!!! rsrs

Luiz Henrique disse...

Nada a ver, eu sei, mas quando se fala em trajes para estudantes lembro dos gaúchos, pelo menos os interiorantes. Todos os anos no dia 20 de setembro, dia da Revolução Farroupilha, os mais tradicionalistas (ou seja, grande parte) tiram do armário seus trajes típicos e vão desfilar pela cidade - escola inclusive - com eles. Acho que é um dos poucos casos em que o Colégio Militar, por exemplo, deixa que os alunos substituam o uniforme oficial.
Parabéns pelo blog e pelos textos (informativos!)...
bjão !

Unknown disse...

Nada muito diferente de os estudantes de direito terem que usar terno no calor do rio de janeiro, principalmente se forem de universidades públicas, que como todos sabem, gozam de grandes sistemas de refrigeração. Pelo menos aí, acredito que seja 1 vez por ano.
Agora entendo pq o portuga lá do escritório fica direto com o botão da camisa aberto e sem "casaco", falando nisso, "foda-se".
Bjos Ézil

Anónimo disse...

Adorei a lenda da estátua de D. Pedro e não duvido nada que exista uma verdade por trás, se engana quem pensa que os portugueses são bobos... e suas observações são as melhores, hehe.

continue escrevendo os textos estão mt bons!
bjos
Gi

Anónimo disse...

Não sei o que é pior, ter que pensar em 51 coisas diferentes para colocar a capa nas costas ou ter de lembrar como é o maldito rabo do bacalhau para colocá-la nos braços!